Ponto de partida…
Consideremos a Terra como estando
aprisionada num cobertor de gases, tais como vapor de água, dióxido de carbono
e metano... Este cobertor isola a Terra aprisionando calor, por um efeito igual
ao dos vidros numa estufa.
Sem este cobertor de gases de efeito
de estufa, a Terra seria um local demasiado frio e desconfortável, incapaz de
suportar a vida conforme a conhecemos.
Contudo, a Terra possui ciclos naturais que vêm sendo perturbados pela
atividade humana, mantendo o “botão” do seu termóstato carregado até ao fundo.
Esta aceleração, daquilo que seria um processo lento e natural, levará
inevitavelmente a máquina do clima a reagir para além do nosso controlo...
Já
não é nova a noção de que existe uma dependência crítica deste “cobertor”…
somos já sete mil milhões (7.000.000.000)… A população mundial quadruplicou em pouco
mais de um século, e o meio ambiente reflete os efeitos deste fenómeno.
Recorreremos
unicamente a casos simples, essencialmente pequenas moléculas representativas,
integradas nos conteúdos lecionados para o estado gasoso, categorizadas pela
sua presença e/ou consequências.
Os
líquenes são seres vivos muito simples que resultam de uma associação
obrigatória indispensável – simbiose – que se estabelece entre uma
cianobactéria (o fotobionte) e um fungo (micobiante). O fungo compõe a maior
parte da estrutura (talo) e protege a alga contra a dessecação e temperaturas
extremas e a cianobactéria produz alimento através da fotossíntese e fornece
esses nutrientes ao fungo.
Os
líquenes são os primeiros colonizadores de um habitat terrestre, uma vez que, atendendo aos benefícios da sua
relação simbiótica, apresentam uma elevada capacidade de adaptação às condições
ambientais que os rodeiam.
Para
que o líquen se estabeleça num determinado ambiente é necessário que este
possua um ar limpo e isento de poluição, uma vez que são altamente sensíveis a
compostos de enxofre, nitratos e muitos outros materiais pesados que possam ser
encontrados na atmosfera, na água ou no solo. Deste modo, os líquenes são “bons indicadores da poluição, porque
funcionam como um filtro biológico que retém todos os elementos do meio que os
rodeia, designadamente compostos de enxofre, nitratos e muitos metais pesados
da atmosfera, da água da chuva ou do substrato, e acumulam esses elementos no
talo em quantidades que seriam fatais para os seres vivos.” (Salsa
et al., 2014, p. 113)
Os
poluentes originam alterações morfofisiológicas nos líquenes, que se traduzem
na sua distribuição e no número das suas comunidades de um determinado local.
Assim, torna-se possível inferir o estado de pureza de um determinado local com
base na presença e no número de comunidades destes seres vivos.
“É, assim, possível relacionar a
presença ou a ausência de espécies de líquenes (epífitos), o seu número,
frequência e cobertura, em troncos e ramos de árvores, com o grau de poluição
da área em estudo.”
(Salsa
et al., 2014, p. 113)
Os
líquenes podem ser classificados em categorias, consoante as diversas
características que apresentam, nomeadamente a forma como se fixam ao
substrato, o tipo de talo e os órgãos reprodutivos. Deste modo, existem os
líquenes crustáceos, que se fixam ao substrato rochoso ou casaca da árvore,
sendo difícil a sua remoção; os líquenes foliáceos, que possuem forma laminar e
que podem ser removidos sem danificar a superfície onde estão fixos e os
líquenes fruticulosos, com forma arbuscular, unidos ao substrato num único
ponto (Salsa et al., 2014).
Contextualização
escolar
A
escola, enquanto instituição, não se assume unicamente como transmissora de
conhecimentos, mas também como agente de educação para os valores e promoção da
literacia científica (Costa, 2008). Assim, de acordo com a Lei de Bases do
Sistema Educativo, educar para a literacia científica é dotar os jovens de um
conjunto de experiências e vivências que lhes permitam ter um papel ativo na
sociedade, manifestando ativamente a sua opinião em assuntos ou temas que
influenciem o meio ou a população na qual estão inseridos (Ministério da
Educação, 2001).
O
estudo dos líquenes e das suas características enquanto agentes de
monitorização da qualidade do ar reverte para uma análise
científico-pedagógica, bem como uma aquisição de competências e clarificação de
ideias acerca do meio ambiente onde estão inseridos. Neste quadro, a
transversalidade entre as disciplinas de Físico-Química e Ciências Naturais
assume um caracter dinâmico e indispensável na aquisição de competências e
promoção da literacia científica nas áreas do saber ser e do saber intervir na
sociedade e na proposta de soluções para melhorar a qualidade de vida do ser
humano.
O
estudo das relações bióticas é uma dos conteúdos que constam das metas a
atingir na disciplina de Ciências Naturais do 8º ano de escolaridade. Nas
relações bióticas é estudada a relação de simbiose que se estabelece nos
líquenes e os seus benefícios enquanto estrutura individual e na sua
globalidade – efeito bioindicador da qualidade do ar. Este conteúdo
relaciona-se de forma sequencial com outros conteúdos abordados na disciplina
de ciências, nomeadamente com a poluição e preservação e conservação das áreas
naturais. Relaciona-se igualmente (transversalmente) com a disciplina de
Físico-Química, no âmbito das partículas que constituem a atmosfera e nas
reações químicas de combustão, responsáveis pela principal produção de
poluentes gasosos, bem como, na reacções ácido-base, na produção de ácidos na
atmosfera (com consequência na acidificação dos aquíferos).
Considerando
que a articulação entre os saberes das diversas disciplinas é uma condição
fundamental para a promoção da literacia científica, surgiu a oportunidade de
realizar um projecto de investigação entre as áreas das Ciências, no sentido de
colocar os jovens perante uma situação real, da sua área de envolvência e
levá-los a efetuar estudos e a analisar dados, propondo soluções que visem a
melhoria do seu espaço de envolvência.
Este
Projeto terá ainda uma forte interligação com a Biblioteca Escolar, dentro do seu
Plano de Ação, pois integra um subprojeto na área da Literacia da Informação, estando
a ser explorado o domínio do Património (Ambiental nesta parceria).
Projeto (fases de aplicação)
Na primeira fase da
atividade de Projeto propomos
que os alunos utilizem a compreensão das unidades estruturais da matéria e a
linguagem da química, na construção (em modelo) de algumas moléculas presentes
à sua volta, e que reconheçam alguns dos principais indicadores e agentes
ambientais de classificação da qualidade do ar e da água (anexo 1).
Como o
Projeto também surge como resultado de uma atividade de enriquecimento “Saber +” (proposta pelo caderno do
professor de Ciências Naturais) será uma parceria fundamental com a disciplina
de Físico-Química.
A fim
de avaliar a qualidade ambiental na envolvência do Aterro Sanitário, o Projeto
visará também o estudo do meio ambiente e dos líquenes como bioindicadores da
qualidade do ar.
Numa segunda fase, proceder à identificação e
reconhecimento da proveniência de algumas substâncias contaminantes de
origem natural e antropogénica (ao estudar alguns fenómenos naturais e as
reações químicas de combustão, bem como, os ácidos e as bases…) e as
consequências da sua produção em quantidades acima do desejável (anexo 2).
Este
estudo utilizará também a enorme sensibilidade dos líquenes à poluição, o que
conduz, na maior parte das vezes, à sua morte. Assim, o projeto atende a dois
pressupostos:
i)
avaliação da diversidade: algumas espécies de líquenes desaparecem quando estão
sujeitas à poluição.
ii)
bioacumulação: relação da distância física ao foco de poluição (quanto maior
for a distância, menor será a interferência no número de líquenes existentes) –
anexo 3.
Numa terceira fase, os alunos poderão partir do conhecimento das principais fontes de emissão
de poluentes gasosos e hídricos (identificadas no contexto dos estudos
preliminares), desenvolvendo atividades de intervenção dirigidas à necessidade
de depuração ou purificação do manto gasoso envolvente e dos recursos hídricos
locais, em Projetos, parcerias com a Biblioteca, Autarquia e/ou outros de
âmbito nacional…
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